“Filtros” diferentes


Há dias em conversa com uma mãe, falávamos da dificuldade que sentia em conseguir tirar o melhor de cada filho. Sentia-se frustrada pois é uma mãe que lê sobre educação, que se preocupa em conhecer com antecedência os comportamentos e os desafios mais comuns de cada fase, que procura aprender a melhor forma de levar os desafios da educação a bom porto. No entanto, não sentia que estava a conseguir fazer as coisas como mais gostaria. Se por um lado, com um dos filhos tudo funcionava às mil maravilhas, com o outro já não acontecia o mesmo.

Dizia-me: “Não percebo! Utilizo as mesmas técnicas. Mas com um filho funciona e com o outro não.”

Foi precisamente neste ponto que nos debruçamos.

É frequente fazermos isto (replicar métodos) não só na educação, mas também noutras áreas da nossa vida.

Mas esquecemo-nos de um detalhe, estamos a lidar com pessoas. E as pessoas não são todas iguais, não valorizam todas as mesmas coisas, não veem o mundo da mesma maneira.

Com os nossos filhos é igual. Ainda que sejam todos da mesma família, que cresçam todos no mesmo ambiente familiar, que estejam expostos aos mesmos estímulos, ideias e valores, cada um tem um “filtro” diferente que faz com que retenha a informação de maneira diferente.

Assim, se dermos a mesma educação a duas crianças com “filtros” diferentes, elas vão reter informações diferentes.

 

Era exatamente isto que se estava a passar com esta mãe. Ela estava a educar duas crianças completamente diferentes da mesma forma. Por isso, funcionava com uma e não com a outra.

 

Este “filtro” chama-se temperamento, é algo inato, que nasce connosco, que nos faz ver o mundo de determinada maneira e que nos leva a ter uma predisposição para reagir de determinada forma. Mas o nosso temperamento não é uma sentença, nem pode ser desculpa para os defeitos que temos. Sobre o temperamento construímos a nossa personalidade e o nosso carácter. A personalidade é fruto das experiências que que vivemos e resume-se ao conjunto das características psicológicas que ditam como pensamos, sentimos ou agimos. O carácter são os traços morais que determinam a forma constante como agimos e reagimos.

Assim, podemos não poder fazer nada em relação ao temperamento dos nossos filhos, mas podemos, através do conhecimento do temperamento de cada um e adaptando a forma como lidamos com esse temperamento, ajudá-los a desenvolver a sua personalidade e o seu carácter.

 

Quando a mãe começou a aprofundar o seu conhecimento sobre os temperamentos e a aplicar esse conhecimento na educação dos filhos, tudo mudou. Aprendeu a conhecer o seu temperamento e o dos outros. Percebeu que havia coisas que valorizava e que para os filhos não tinham o mesmo impacto. Descobriu que algumas formas de agir dos filhos não eram demonstrações de desrespeito, mas apenas resultado de maneiras diferentes de assimilar as situações. Tudo isto permitiu afinar o seu modo de educar, de comunicar, de orientar.

O resultado foi uma grande melhoria na harmonia familiar. Não significa que já não haja conflitos, porque esses irão sempre existir. Mas são menos frequentes e mais facilmente resolvidos.

Nas próximas semanas vamos explorar mais a fundo este tema dos temperamentos.

Estás preparada?

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